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AVRW - Capítulo 15

Malditas Caixas

Corri para dentro da Floresta sem olhar para trás. A última vez que eu me sentira tão assustada fora três anos atrás ao fugir de Londres. Precisava manter a calma, mas a escuridão da floresta não ajudava nem um pouco.
No primeiro minuto, ao invés de continuar correndo, parei ao lado de uma árvore, longe o suficiente da plateia pra que ela não visse o que eu estava fazendo. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando controlar minha respiração e meu nervosismo. Expirei e inspirei por alguns segundos, concentrando-me em controlar as borboletas de meu estômago. Me imaginei no Salão Comunal da Sonserina, que já não me parecia tão macabro e desconfortável quanto achara no começo e, aos poucos, senti que meu corpo relaxava. Senti-me mais tranquila, embora a centelha de tensão e nervosismo ainda estivesse lá.
Sabendo que não poderia fazer melhor que isso, abri os olhos, revigorada, sentindo-me muito melhor ao olhar para aquela escuridão formada pela sombra das árvores. Me pareciam até mesmo bonitas, agora. Sem querer perder mais tempo, e com minhas emoções controladas, voltei a correr, agora muito mais tranquilamente do que no início.
Foi impossível não pensar em Caterine de forma agradecida quando os galhos, passando contra meu corpo, deixavam claro que a ideia dela havia sido ótima. Caterine dera uma ideia a Sophie: que o tecido de minha roupa fosse reforçado com feitiços que dificultariam a penetração de qualquer coisa, como os grossos galhos da Floresta Proibida. Bem, deu certo. E agora eu me arrependia profundamente de meu orgulho ter me impedido de agradecê-la pela ideia genial. Tomei uma nota mental para fazê-lo mais tarde - se eu conseguisse sair viva daqui.
Tentei me lembrar de uma detenção em que eu me metera no segundo ano - causada por Hugo - e que minha punição era achar alguma coisa dentro da floresta - o quê, exatamente, eu nunca descobri, pois até mesmo Hagrid (que monitorava a detenção) não sabia o que procurávamos; era apenas um castigo.
Não era fácil, pois ela me parecia muito mais estranha e esquisita - vez ou outra encontrei pedras enormes por entre as árvores, e elas até mesmo se mexiam. Eu nunca tinha visto pedras tão grandes na Floresta. Eram, obviamente, obstáculos da prova. O controle de minhas emoções me impedia de gritar a cada vez que algo inusitado acontecia.
Perdi as estribeiras quando tropecei em uma das várias raízes que insistiam em se movimentar. Eu via onde uma raiz estava, mudava de direção tentando evitá-la, mas do nada olha só onde ela aparece? Bem na minha frente. Do nada! Levantei resmungando ainda mais que antes.
– Ai meu Merlin! – sussurrei quando me deparei com um dos meus maiores medos. Era uma aranha. Não qualquer aranha, como aquelas que eu poderia erguer a mão – com muito medo, por sinal, já que graças a meu pai, eu morria de medo de aranhas – e matar rapidamente. Não, era uma aranha grande. Grande não, enorme, do tipo gigante. Minha respiração tornou-se falha e os batimentos de meu coração aceleraram, quase saltando para fora de meu peito de tanto terror. – Controle-se, Rose Weasley. – falei alterada e tive vontade de me matar logo depois. Cadê o controle das emoções? Fugiu, pelo jeito, ao se deparar com esse monstro. Minha vontade era de fazer a mesma coisa, mas eu não era ágil o suficiente: sabia que ela me alcançaria.
A aranha, que estivera de costa para mim, se virou agilmente. Arregalei os olhos encarando as enormes presas dela se abrindo e fechando em minha direção.
– Ok. – murmurei apertando a varinha em minha mão. O que eu poderia fazer… será que era um bicho-papão? Claro que sim. Quero dizer, que professor, com juízo perfeito, colocaria uma aranha de verdade ali? –Riddikulus. – falei com um sorriso no rosto e, para meu desespero, o feitiço bateu na aranha não causando efeito nenhum, a não ser o de deixá-la irritada e se inclinar para vir em minha direção. – Merda. – soltei começando a correr para o lado oposto ao dela.
Mas logo percebi que se continuasse assim, acabaria saindo da Floresta Proibida e perdendo a prova. Parei me virando para o lado oposto mais uma vez, ficando de frente com a Maldita que abriu ainda mais as presas, ansiando por mim. Senti a adrenalina correr por minhas veias. Não sei onde estava com a cabeça, mas corri em sua direção dando um salto e com uma cambalhota, estava no chão da Floresta e embaixo de Gigante.
Acho que essa floresta está afetando meu cérebro também, só pode!
– Incarcerous. – gritei em desespero e me aliviei ao ver que funcionara. As patas da frente da aranha estavam presas em cordas firmes e ela acabou com as presas grudadas à terra, em uma tentativa falha de fugir. – Não mexa com uma Weasley, coisinha. – falei após me levantar.
Com um sorriso de lado a lado, me virei para continuar meu caminho até o interior da Floresta. Parei um segundo analisando a situação e optei por voltar. Subi em Gigante, que guinchou em protesto. Olhei para os lados conferindo que ninguém me observava.
– Imperio. – falei baixinho com o coração martelando contra meu peito. Eu estava usando uma Imperdoável! Obviamente, não funcionou.
Eu precisava usar aquele feitiço. A aranha era uma das únicas formas em que eu teria realmente uma chance de vencer essa tarefa. Tal pensamento fez com que eu repetisse o feitiço com mais força e vontade. Senti a aranha tremer levemente embaixo de mim. A livrei das cordas e ela continuou sem se movimentar, aguardando meu comando. Sorri superior passando a corda por seu pescoço e começando a guiá-la para o interior da Floresta.
Minhas dificuldades foram quase nulas após estar em cima da tia Gigante. Me utilizei algumas vezes de feitiços para afastar algumas aranhas que tentavam se aproximar, como se soubessem que sua “irmã” não estava em seu estado normal. A Floresta tornou-se mais densa em dado momento e depois se expandiu.
Um grunhido preencheu meus ouvidos e fiz Gigante parar. Estava assustada, isso era algo que eu não poderia enganar ninguém.
– O que tem aí na frente, ein? - segui mais alguns metros Floresta adentro e percebi que minha situação estava piorando a cada segundo, ao chegar a uma enorme clareira.
Sem precisar de muito, já sabia o que “era nosso por direito” - palavras da própria McGonagall - e que “precisávamos pegar no meio da Floresta”. Chamando a atenção como um ponto preto no meio de uma imensidão branca, estava um Cérbero - real mesmo - do tipo gordo, babão e enorme. As três cabeças gigantes estavam descansando quase que lindamente no chão de terra batida.
Uma harpa tocava mágica e graciosamente em algum ponto da Floresta, fazendo-os permanecerem quietos.
Passei alguns segundos em devaneios olhando ao redor, tentando encontrar o que, afinal, devíamos levar de volta para fora da Floresta. O barulho de passos fez com que eu olhasse para trás buscando algo que não fosse nocivo. As árvores pareciam estar se comprimindo e deixando um espaço cada vez menor de fuga. Demorei em voltar minha atenção para o Cérbero e uma luz pareceu brilhar quando uma das cabeças se movimentou, como que procurando uma posição mais confortável, e revelou algo dourado pendurado em seu pescoço. Aquilo realmente não era bom, mas pelo menos já sabia o que tinha que pegar e onde.
– Será que alguém já esteve aqui? - perguntei para mim mesma, olhando primeiro para cima e encarando o céu cinzento que se estendia sobre os terrenos de Hogwarts. Olhei para o chão e havia apenas uma pegada. Uma pegada grande demais para ser de um humano normal. - Hagrid. - murmurei tentando me concentrar e pensar. Dei uma volta pela orla da clareira e encontrei algo diferente: havia sangue seco próximo a uma das patas do Cérbero. Isso significava que ele estava alimentado e dificilmente estaria com vontade de comer uma garota mirrada e sem carne como eu.
A música devia estar ligada a alguma distância que eu devia manter da criatura, ou seja, quando me aproximasse demais, a música pararia e meu desespero começaria.
Pense Rose, pense.
E uma ideia meio louca me veio à cabeça. Sequer sabia se daria certo. Quero dizer, era uma aranha, não um ser pensante, mas não perderia nada tentando.
– Circum Tria Metra Homenum Revelio. - murmurei e minha varinha permaneceu quieta, fazendo-me sorrir satisfeita por não haver ninguém por perto e pelas coisas estarem começando a dar certo. - Chame suas irmãs. - falei para a aranha.
Sim, talvez eu estivesse pirando, mas não custava tentar. Repeti uma vez mais e já estava buscando outra ideia quando a aranha embaixo de mim soltou um guincho agudo, o repetindo segundos depois. Meus olhos se arregalaram em um misto de medo e ansiedade. Será que havia funcionado?
A resposta chegou um minuto após. O grito de alguém ricocheteou pela Floresta seguido de guinchos e mais guinchos e barulho vindo das copas das árvores. A única coisa que pedi foi que Albus e Scorpius estivessem em segurança.
– Fianto Duri. - gritei quando dezenas de aranhas começaram a aparecer e vinham em minha direção, querendo atacar. - Mande-as parar, MANDE-AS PARAR! - Gigante soltou outro guincho, dessa vez mais agudo e todas as aranhas ao redor e dentro da clareira começaram a se mexer incomodadas, em protesto. Será que eu dera sorte e pegara a aranha rainha ou algo assim? Tudo bem, minha mente estava excitada demais para pensar sobre as coisas que eu estava pensando. Mais uma vez lancei o feitiço para saber se havia alguém próximo de nós e minha varinha permaneceu parada, mostrando que a situação era aquela: eu, um Cérbero e várias aranhas. Não era confortável, mas aparentemente eu era a única que havia conseguido chegar até ali e estava feliz por isto.
Observei que muitas das aranhas estavam dentro da clareira e nada havia acontecido. Dei um sorriso animado e inclinei meu corpo para frente, incentivando Gigante a continuar seu caminho até a criatura. Grande erro; bastou entrar na clareira para o som se dissipar. Foi um segundo de silêncio, com exceção do barulho das presas das aranhas que batiam umas contra as outras - sério, podia sentir o desejo que todas elas tinham em me rasgar ao meio. O som da harpa se dissipou e o Cérbero piscou os olhos, afastando-se pouco a pouco de seu sono.
– Ai Merlin, por que nada pode ser fácil? - a criatura piscou várias vezes e uma a uma as cabeças se ergueram. Olharam todas as aranhas e três pares de olhos focaram em mim. E eu, focava nas caixas penduradas nos pescoços do Cérbero.
A cabeça do meio possuía duas caixas, penduradas em cordões distintos. Uma caixa era prateada e a outra dourada, as outras duas cabeças também possuíam caixas talhadas em ouro e prata, cada uma de uma cor.
– Carpe Retractum. - gritei com força e uma energia alaranjada saiu de minha varinha indo na direção que eu apontava: o pescoço do meio da criatura, tentando agarrar a caixa prateada. Inicialmente funcionou, eu estava conseguindo movimentar o cordão que prendia a caixa, mas então a energia se dissipou, sem minha autorização. Olhei com raiva minha varinha e tentei mais uma vez; outra vez, a energia não durou muito. O Cérbero começou a ficar meio nervoso, erguendo-se sobre suas patas.
– Claro que não seria fácil. - resmunguei pensando em outra alternativa. - Quero aquela caixa. - falei à Gigante. - Quero a caixa prateada. Peça a elas, por favor, para pegarem para mim. - aguardei esperando minha ordem ser cumprida, e alguns segundos depois, após um guincho agudo de Gigante, começou uma movimentação de aranhas indo para o meio da clareira, em direção ao Cérbero que rosnou, furioso. Quando a primeira aranha estava sobre seu corpo, ele iniciou uma sequência de latidos ensurdecedores, movimentando-se de um lado para o outro tentando tirar as dez ou mais aranhas que estavam sobre seu corpo.
Inclinei-me sobre Gigante e disse a ela para seguir até a criatura. Aquele momento era o que eu tinha. Com tantas aranhas, o Cérbero estava distraído e não atacaria somente a mim. Gigante fez acrobacias passando sobre as outras aranhas e eu me agarrava ao meu maior medo como se minha vida dependesse disso. E realmente dependia. Em certo momento Gigante ficou de cabeça para baixo, quando finalmente conseguiu chegar ao pescoço do Cérbero. Eu estava a menos de um metro da caixa quando alguma coisa me atingiu e me soltei de Gigante, sendo lançada contra as árvores.
POV Albus
Estava mais uma vez saltando as endemoniadas raízes que insistiam em me perseguir, correndo que nem um maluco pela Floresta.
– Preciso ir mais rápido. - murmurei exatamente no momento em que a sombra de algo passou sobre mim e um baque se estendeu as minhas costas. Respirei fundo, a mão suada agarrada a varinha e fazendo de tudo para evitar tremer de medo.
Olhei para trás e vi as curvas de um corpo. Primeiro achei que fosse uma ilusão, mas então reconheci os cabelos de Rose e o macacão azul colado ao corpo que ela usava. Aquilo também podia ser uma ilusão, mas não podia arriscar.
Andei cautelosamente até o corpo e me assustei ao perceber que era mesmo Rose, estava bastante machucada e desacordada. Me abaixei ao lado de minha prima e virei seu rosto em minha direção. Uma fina linha de sangue saía de sua boca. Engoli em seco em dúvida quanto ao que fazer.
– Rose... - sussurrei, aterrorizado, ao ver minha prima daquele jeito. Peguei minha varinha rapidamente, apontado para seu peito. - Ennervate. - murmurei e ela se agitou em meu colo, se erguendo rapidamente e tossindo. Olhou para mim, parecendo perdida. - Está bem? - ela demorou para focar em meu rosto, parecendo confusa.
– Albus?
– Rose! - exclamei, suspirando de alívio.
– As aranhas... Onde elas estão? - murmurou, olhando confusa para os lados.
– Quê? - meu olhar suavizou ao perceber sua profunda confusão. - Rose, você bateu a cabeça, mas tente se recuperar, ainda temos que achar... - seu olhar se fixou em meu rosto, de repente irritado e um tanto cômico. Ela se levantou bruscamente, olhando para os lados como se tentasse saber onde estava. Ela pareceu reconhecer o lugar em que estava.
– Não seja idiota Albus - disse, pegando em minha mão e me puxando para não sei onde -, eu achei as caixas. Enfeiticei as aranhas para pegá-las para mim, mas alguma coisa me bateu e me atirou para longe. Só não sei o quê. - ela parecia novamente confusa, e a preocupação jorrou em meu íntimo. Será que Rose batera a cabeça forte demais? O que eu deveria fazer: deixá-la aqui, confusa e desorientada, enquanto eu completava a tarefa? Não, é claro que não. Rose precisava de minha ajuda, que se dane esta tarefa! Minha prima é mais importante.
Percebi o quanto minhas divagações eram tolas ao encarar aquele enorme cão de três cabeças. Ao adentrar uma espécie de clareira, ouvi o som suave de uma harpa tocando ao longe e, segundos depois, o mesmo som parar. O cão, antes adormecido, pareceu acordar, e eu recuei um passo, assustado. Mas eu não sabia se o susto era por conta do cão ou pela expressão de Rose, que olhou para mim completamente em pânico.
– Onde estão as caixas?

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