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AVRW - Capítulo 06

Velhas Feridas

POV Rose
Acordei sentindo-me agoniada.
Olhei ao redor confirmando que estava mesmo em Londres, em Hogwarts e em um dos quartos do Salão Comunal da Sonserina. Não havia sido um sonho, afinal. Mas, antes de dar um sorriso de orelha a orelha, me belisquei para ter certeza. Ao sentir uma pequena pontada, me permiti rir baixinho. Eu estava de volta a Hogwarts! De volta a minha família!


Me espreguicei sentando-me na cama e olhando Sophie e Caterine que ressonavam tranquilas.
Respirei fundo lembrando que tratara Sophie mal na noite anterior e teria que me retratar por aquilo. Às vezes eu conseguia ser realmente idiota. Troquei de roupa, afinal o sono já havia se evaporado e uma animação estranhamente grande que fazia eu querer me movimentar começava a se apoderar de mim. Saí do quarto, indo ao Salão Comunal. Me sentei em uma poltrona próxima à lareira que estava apagada e fiquei algum tempo. Me levantei e caminhei em volta.
Estava entediada e inquieta.
Na verdade, estar de volta a Londres fazia minha mente girar. De repente eu queria ver meus primos e meu irmão ainda mais do que já tinha visto, queria minha mãe ao meu lado quase me enforcando com um abraço e o olhar acolhedor de meu pai. Queria ver vovô Arthur bagunçando meu cabelo quando me aproximasse dele e vó Molly abrindo os braços para que eu pudesse me jogar neles - apesar de não ter certeza se ganharia um abraço ou alguns tapas. 
Mas não importava. Eu queria ver minha família e isso parecia tão difícil mesmo estando tão perto de todos. E morria de saudades de meus avós!
Fiquei algum tempo olhando para o nada apenas sorrindo bobamente e lembrando-me dos vários momentos-família que participara. Em especial o aniversário de Hugo de onze anos. Tiago, em parceria com Louis, fez tio Harry, tio Gui e a srª Andrômeda pegarem Victoire e Teddy aos beijos nos segundo andar d'A Toca. Aquilo rendeu e muito, pois o pai de Victoire não sabia que os dois namoravam e acabou ficando irritado com ela por semanas.
Mas no fim tudo deu certo. Os dois revelaram seus sentimentos e começaram a namorar oficialmente.
Alguns alunos menores entraram no Salão me tirando de meus devaneios e decidi que era hora de sair dali. Dar uma volta. Matar a saudade do castelo.
Apesar de desejar aquilo inicialmente, não demorou para eu cansar de ir de um lado a outro dos corredores e do jardim. Pensei um pouco e sabia que na verdade estava com saudade do meu refúgio em Hogwarts. O tempo podia passar, mas eu seria sempre a ratinha da biblioteca e já eram mais de vinte e quatro horas sem passar as páginas de um livro.
Passei determinada pelos corredores assustadoramente vazios. Era estranho estar em Hogwarts e não estar dentro das salas. Poder ficar rodopiando sem me preocupar com o zelador.
Entrei na Biblioteca cumprimentando Madame Pince que me olhou curiosamente. Ela me reconheceu no instante seguinte e então retribuiu meu cumprimento animada.
- Rose! Quanto tempo! - falou como se fosse algo trivial minha ausência por três anos, mas tinha um tom amimado. Madame Pince e eu éramos praticamente amigas. Eu vivia tanto naquela biblioteca que num dia ela começou a conversar comigo e, após isso, por várias vezes voltei ali apenas para um bater papo com ela.  
- Pois é, Madame Pince... mas agora estou de volta. - dei um sorriso amarelo.
- Ah, sim, para o Torneio Tribruxo... - e resmungou algo. - E então, o que precisa? 
- Qualquer coisa. Vim mais para visitar mesmo, sentia saudades daqui. - ela deu um sorriso carinhoso.
- Sinta-se a vontade. - e voltou a rabiscar algumas folhas que estavam sobre sua mesa. Me afastei dali virando na direção das estantes. Acabei indo até o final da biblioteca, passeando entre as últimas prateleiras. A seção de Poções era minha favorita, exatamente por essa ser minha matéria favorita. Bem, professor Slughorn era algo de Londres que eu não sentira falta naqueles longos anos, pelo contrário! Professor Bouvié é o meu professor preferido em Beauxbatons, e com certeza é o melhor professor de Poções que já tive.
Passei meus dedos pelos livros da estante, lendo os títulos e vendo se não me interessava por algo. Peguei o Criaturas Mágicas e Seus Venenos e estava prestes a me sentar em uma mesa ao lado da prateleira, quando ouvi um pigarro às minhas costas.
Depositei o livro cuidadosamente na mesa e me virei, encontrando Roxanne parada com aquele natural olhar de ódio que era direcionado apenas a mim.
- Prima! Quanto tempo! - disse sorridente, ignorando seu olhar mortal. 
- Escute aqui Rose Weasley, não pense que só porque voltou será a preferidinha de todos novamente. - mantive a compostura e não tive reação a acusação. Apenas continuei com o meu sorriso e retruquei.
- Está sendo injusta Roxanne! Nunca fui a preferida de ninguém, inclusive... - tentei, mas ela não me deixou terminar começando a bater palmas e vir em minha direção.
- Sempre a inocente, certo priminha? Mas no fundo eu sei quem você realmente é! 
- Mesmo? E quem eu sou, Roxanne? - comecei a me irritar e meu tom foi baixo, levemente perigoso. Minha mão já estava em cima do bolso onde eu guardava a varinha, qualquer movimento em falso dela e eu estava preparada. Era realmente triste ter que me proteger de minha própria prima!
- Você é uma mentirosa exibida! Fugiu apenas para fazer uma cena quando voltasse, não é? Estava tudo planejado! Você não se importou com o sofrimento da minha família, pelo contrário, era isso o que queria! E eles, idiotas, te receberam com os braços abertos! Você é uma vadia sem coração, isso sim! - ela praticamente gritava e antes que eu conseguisse raciocinar, minha mão já deixava uma marca de cinco dedos em seu rosto. Ela colocou a mão sobre o lugar, chocada, e veio para cima de mim.
Antes que se aproximasse mais, peguei rapidamente minha varinha e com um simples Petrificus Totalus não verbal ela ficou paralisada.
- Não fale sobre o que não sabe, Weasley! - eu nunca falara meu próprio nome com tanto desprezo antes. Roxanne com certeza conseguia me tirar do sério! - Eu sofri, e muito quando deixei nossa família, e me arrependo. Você não sabe nada da minha vida! Sua sorte é que tenho muito respeito pelo tio Jorge, se não agora mesmo você estaria sendo levada para a enfermaria! - seu olhar ficou levemente surpreso.
Antes de desfazer o feitiço que a imobilizava, sussurrei perigosamente para ela:
- Queria ódio, querida Roxanne? Conseguiu.
Esperei estar a uns dez metros de distância, desfiz o feitiço e saí dali rapidamente.
Não, não porque estava me controlando para não enfeitiçá-la, Merlin sabe que não teria coragem de tocar num fio de cabelo dela, apesar da ameaça. E do tapa. Eu estava me controlando para não chorar. Porque, no fundo, tudo o que Roxanne dissera era verdade. Ela trouxera os fantasmas que minha família fizera questão de enterrar ao me receber, realmente, de braços abertos.
Conhecia um pouco de Roxanne para saber que a ameaça surtiria efeito por alguns dias, mas depois ela voltaria a atacar com tudo. Ela não descansaria, nunca. Isso porque em algum momento eu fiz alguma estupidez - a tratei mal, talvez - e ela, além de não me contar o que eu fiz, nunca aceitou meus pedidos de desculpa.
E ela sabia muito bem como me afetar, maldita!
Roxanne e meu canal lacrimal tinham uma ligação muito forte. E pensar que provavelmente nunca teria minha prima ao meu lado com um sorriso verdadeiro ativava-o rapidamente. Percebi que meus pés haviam me levado diretamente para as masmorras enquanto eu começava a fungar. Tinha cerca de cinco segundos antes de desmoronar.
Implorei para que não houvesse nenhum aluno quando passei pelo Salão Comunal em direção aos dormitórios. E fiquei ainda mais feliz ao ver que Sophie e Caterine não estavam mais no quarto. Era um momento ruim e eu não queria que as duas me vissem com o rosto todo molhado daquele jeito. As duas com certeza se preocupariam mais do que o necessário.
Passaram-se alguns minutos e eu senti um par de braços ao meu redor. Me assustei com aquilo ouvindo a pessoa atrás de mim suspirar. Estava sentada na cama de costas para a porta. Minha intenção era melhorar minhas feições caso Soph ou Cat voltassem mais rápido que o normal do café da manhã. As duas mais conversavam do que comiam nas refeições, e eu não duvidava que ficassem um bom tempo à mesa apenas batendo papo com nossos colegas.
Tentei passar a mão rapidamente por minhas lágrimas, mas com uma olhada discreta para o espelho do outro lado do quarto, percebi que meu plano não dera muito certo. O rosto continuava vermelho e meus olhos brilhavam de tristeza.
- Ah Rose. - ela disse em uma voz acolhedora e para minha surpresa não era nenhuma das duas, e sim Aline. Afastei-me de seus braços querendo confirmar que não estava sonhando.
- Pensei... pensei que não quisesse mais falar comigo. - minha voz saiu entrecortada, chorosa e cheia de manha. 
Era Line ali, então não havia realmente problemas nela me ver naquele momento altamente frágil.
Ela suspirou dando um sorriso amarelo e se levantando.
- Nada do que te disse no início do ano mudou. Continuo não concordando com o que você fez, mas... - ela voltou a se sentar e me puxou para um abraço. - continuo sendo sua amiga.
- Você disse que não queria mais... - eu estava cheia de dengo. Acho que era por causo da saudade que eu sentira dela. Fazia meses que ela sequer olhava para minha cara, e agora ela estava finalmente ali, preocupada comigo.
- Eu disse muitas coisas, Rose. Aquela situação me forçou a te humilhar tanto quanto você humilhou Frederico. Sabe que não suporto quando você dá o ataque "eu sou dona de tudo". - não evitei rir baixinho e ela também deu um sorriso. - Sou sua amiga e vou morrer sendo. Está precisando de mim agora e sei que apesar de você ser molenga, não chora por qualquer coisa. Na verdade, eu nunca tinha te visto chorar.
Soquei seu braço levemente pelo molenga e derramei tudo o que aconteceu.
- Sua prima que é uma vadia. - olhei pra ela a repreendendo, mas acabei rindo com ela.
Haviam sido meses de certa forma ruins sem Aline. Sophie e Caterine eram ótimas amigas, mas as vezes eu precisava variar, conversar sobre outras coisas, e Line sempre estivera ali quando eu precisava.
A diferença entre Line e Sophie e Caterine era que Soph e Cat sempre tentavam me consolar. Se eu tinha um problema, elas conversavam comigo sobre isso, tentando achar uma solução comigo. Já Line me fazia esquecer o problema. Ela me distraia ou falava algo que me fizesse rir.
De certa forma, não sei o que seria sem as três.
Estar ao lado de Line era acolhedor. Acho que porque ela era a única que verdadeiramente me entendia, pois vivia uma situação semelhante a minha. Ela não fizera a besteira de fugir da família ou algo do gênero, mas ela também sabia o que era ficar longe da família. O pai a arrastara com ele para a França para estudar meses antes de ela completar onze anos. Ela sabia a dor da distância tanto quanto eu.
Aline dizia se dar bem com o pai, mas quantidade lhe importava muito. Ela preferia estar no Brasil, com a mãe, os irmãos, os avós e todos os outros, a estar ali só com o pai.
Sua sorte é que podia ver sua família nas férias, ao contrário de mim, que sempre ficava por um tempo na casa de Cat ou Soph, e depois voltava para a escola para a família das duas não desconfiarem.
Maldito orgulho!
- Vai limpar essa cara, precisa estar com uma aparência melhor quando suas coleguinhas chegarem.
- Mal voltamos a conversar e já começou? - resmunguei.
Vamos resumir colocando assim: Sophie não tem nada contra Aline, Caterine tem muita coisa contra ela e Aline não nutre sentimentos por nenhuma das duas. Diria que é apática com relação a minhas melhores amigas.
- Quê isso, nada demais. Anda Rose, precisa melhorar essa cara. Eu pego essa Weasley depois para você...
- Não, não, não, muito obrigada. - corri a dizer, pois sabia que ela falava sério.
Me levantei indo para o banheiro e ela veio atrás. Parou no batente da porta e ficou me observando. Lavei o rosto normalmente e voltei a passar um pouco de pó no rosto.
- Que cena foi aquela ontem a noite? - encarei seu reflexo que sorria. - Você geralmente se faz pelo menos de difícil.
- Pelo menos? - questionei pegando o lápis de olho e passando uma camada leve.
- Ele é o seu garoto, não é? - mordi o lábio voltando a olhá-la. A certeza em sua voz sequer me deixava mentir.
- Tecnicamente, sim. Ele nunca foi meu.
- Mas parece que será.
Virei em sua direção me apoiando na pia.
- Desculpe Line, mas não quero conversar sobre isso. - ela soltou um forte suspiro, e detectei um pouco de mágoa no seu olhar. 
- Aposto que você contou para suas amiguinhas
- Ai, Line! - ri gostosamente, enquanto passava meus braços por sua cintura. Ela era bem mais baixinha que eu e eu precisava me inclinar um pouco. - deixa de drama! Vamos descer, vamos. Estou com fome e quero passar o dia inteiro com a minha família! 
- Ah, legal, agora além de me trocar por aquelas duas, você vai querer me trocar por seus priminhos e irmãozinho... - sabia que ela estava brincando, por isso gargalhei e puxei seus braços, descendo com ela para o Salão Principal.


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